Internamento de Pediatria
HPA Magazine 21 // 2024
Num contexto de retrocesso global das taxas de vacinação, esta é uma oportunidade para refletir sobre as vacinas que temos à nossa disposição, e como estas podem ser benéficas para o nosso bem-estar. O cumprimento eficaz do calendário de vacinação infantil é essencial, sendo o principal elemento responsável pela diminuição do coeficiente de mortalidade infantil e pela redução da incidência das inúmeras enfermidades contagiosas.
Com a chegada do inverno a Portugal, observamos um aumento significativo no número de crianças hospitalizadas devido a condições respiratórias, como a pneumonia, o Haemophilus Influenzae tipo b (Hib), o Staphylococcus Aureus e outras espécies bacterianas, além do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), o Vírus da Parainfluenza Humana de tipo 1, 2 e 3 (PIV -1, PIV -2 e PIV -3), o Vírus Influenza e o Vírus da Varicela. Calcula-se que a maioria das infeções respiratórias agudas são ocasionadas por agentes virais.
A necessidade de discutir e implementar medidas preventivas e de intervenção eficazes torna-se ainda mais premente, considerando os desafios adicionais que esta estação impõe à saúde respiratória das crianças.
Neste contexto, é fundamental promover a consciência sobre as práticas que podem ajudar a mitigar o impacto das condições respiratórias, não apenas para reduzir a incidência de hospitalizações, mas também para maximizar a saúde das crianças durante os meses de inverno.
Em primeiro lugar, a criação de um ambiente saudável, evitando a exposição das crianças a fumos e garantindo uma boa ventilação nos locais onde passam mais tempo. A prática regular da lavagem nasal com soro fisiológico, contribuindo para aliviar a congestão e manter as vias respiratórias desobstruídas. Outra estratégia eficaz consiste em elevar a cabeceira da cama durante o sono, especialmente se a criança apresentar dificuldades respiratórias. Esta simples modificação postural facilita a respiração durante o período noturno, reduzindo sintomas e melhorando a qualidade do sono dos mais pequenos. É crucial integrar estas práticas no quotidiano, dado que os cuidadores desempenham um papel ativo na promoção da saúde respiratória infantil. A otimização do ambiente domiciliário não apenas reduz o risco de complicações respiratórias, mas também cria um espaço propício à recuperação e ao bem-estar contínuo das crianças.
Para além disso, não se deve descurar a importância da limpeza e desinfeção regular de todos os compartimentos da casa, incluindo brinquedos. Evitar a acumulação de poeiras e microrganismos é essencial para prevenir infeções respiratórias. Promover a lavagem das mãos, especialmente após tossir e utilizar a casa de banho, antes das refeições e antes de tocar na boca, olhos e nariz, são práticas adicionais que contribuem significativamente para a criação de um ambiente saudável.
Em caso de doença respiratória torna-se necessário reconhecer os primeiros sinais de dificuldade respiratória em crianças para uma resposta eficaz e para preservar a saúde pulmonar. A observação atenta de alguns indicadores que abordaremos em seguida, servem como um guia para os pais e cuidadores, capacitando-os a tomar decisões rápidas e a procurar ajuda médica de forma oportuna.
A tiragem intercostal, infracostal e supraesternal, caracterizada pelo afundamento (“covinhas”) entre as costelas, são indicadores claros de que a criança está a realizar um esforço adicional para respirar. A tiragem indica um aumento do trabalho dos músculos respiratórios e deve ser prontamente reconhecida para evitar o agravamento da situação clínica da criança. O adejo nasal, ou seja, o alargamento das narinas durante a respiração, é um sinal de que a criança está a enfrentar uma resistência significativa nas vias respiratórias. Este reflexo é uma resposta instintiva para otimizar a entrada de ar e deve ser considerado como um alerta para a possibilidade de obstrução ou desconforto respiratório. O movimento de balanço da cabeça para a frente e para trás durante a respiração é uma tentativa natural de otimizar as vias aéreas. Este comportamento sugere desconforto e pode indicar a necessidade de uma avaliação mais aprofundada, especialmente se ocorrer de forma persistente. A presença de lábios cianosados, com uma coloração arroxeada/azulada, é um sinal claro de que a oxigenação do sangue pode estar comprometida. É um indicador crítico de dificuldade respiratória aguda e deve ser tratado como uma emergência médica. A observação de uma frequência respiratória acelerada, conhecida como polipneia, é outro sinal indicativo de que a criança pode estar a lutar para respirar. Uma respiração rápida e superficial pode ser um indicador precoce de desconforto respiratório e requer atenção imediata.
Ao compreender estes sinais, os pais e cuidadores adquirem uma ferramenta preponderante na promoção da saúde respiratória infantil. A rapidez na identificação e resposta a estes sinais pode fazer toda a diferença na intervenção e na prevenção de complicações mais graves. Importa salientar que, ao observar qualquer um destes sinais, é imperativo procurar assistência médica imediata. Os profissionais de saúde estão preparados para avaliar a gravidade da situação e iniciar intervenções adequadas.
A educação contínua sobre estes sinais é essencial, capacitando os cuidadores para agirem como defensores proativos da saúde respiratória das crianças, contribuindo para um inverno mais seguro e tranquilo.